Apolo estava encostado ao tronco dum Loureiro. O dia estava abrasador. Que calor no corpo e frio na alma! Apolo estava melancólico, necessitava de Luna, não aguentava mais...
Tivera sonhado na noite prévia um sonho deleitoso e celeste com a sua amada! Resolveu então refugiar-se na frescura amena da sombra da árvore. Queria tentar reter o sonho o máximo tempo possivel, tentando imaginar com nitidez suas imagens. Contudo vinham-lhe à ideia apenas figuras fugidias e plácidas. Apesar da indefinição da imaginação, Apolo conseguia sentir intensamente a magia do sonho- Uma indefinida paixão. Então como a gostosa sensação onírica deixava rastilho, Apolo tentava focar-se nela o máximo tempo possivel...
O vento suspirava... uma suave brisa oriunda do mar distante roçava em sua face. Seus cabelos ondeavam de forma fugaz.
Pegou no bloco branco pautado que levava e as suas folhas vazias incentivaram-no a escrever qualquer coisa.
Sonhador, sombrio e levemente ébrio principiou a escrever:
Ai! A lassidão da espera, da espera de dominar a voracidade consumada, a inconsequente atracção pela amada, que por místico e desconhecido antídoto nos envolve!
Aquela é Luna, é a que me estimula e ainda atribula, nesta monotonia dispersa e neste absurdo cansaço. A sua energia casta e lasciva guarnece-me de feição para atravessar o tempo!
AH! Que balada hiemal/ Congeladora de todas as lógicas e pílares/ Enche de bruma todos estes ares!
O divino suor a ser exalado e a formar nuvens invisiveis. Que me chova muito em cima, mas os pingos atraentes. P.S= Há para todos os gostos e é tudo em Olímpia!
Luna, Luninha, serás tu um símbolo? Coitados de ambos. Tão bela... Na tua tenuidade tens a tua graça e imortalidade, pelo menos para mim! Tenho desejo forte, e ele porque é forte entra na substância do mundo.
Só eu e a minha música, e a minha vida, e o meu cansaço, e a minha (desejada) Luna, e a minha escrita, e o meu desespero! Fujam espíritos do inexistente, que de não existirem existem. Deixai-me sossegado no meu desassossego.
Imagino-me (com cansaço antecipado por estar apenas a imaginar) a ir contigo, Luna, pela estrada a caminho da praia, do mar, com a tua absoluta presença, mas entretanto, vou já a sofrer por ter que regressar! Oh... brisa primaveril, forneçe-me o teu cálice de amor, para eu poder beber até nunca me fartar!
Sou o travesseiro da Saudade! O devastador do infinito! Oh! A notas do piano ressoam como pingas de água a cair no corpo... De quem? ....fhhhh Luna fhhhh.......
Na terra de Olímpia, na terra do sonho, na terra do nada!
Sou um viajante solitário,
E vou, cismando pela estrada.
Inúmeros espíritos flutuam,
Em torno da minha alma.
Tudo desejos e necessidade,
Revolta e inconformidade,
Produzidos pela tua figura, menina,
Cuja perfeição me deifica.
Ao ver-te passar galante,
Ciência, chata se torna,
Com suas leis destrutivas,
Da tua essência perene…
Sempre solitário vou,
A devanear no que ontem se passou,
Quando te vi bela, junto ao rio,
E sonhei ver o mundo te fixando,
Ò cândida e alva perfeição.
Jornadeando pelo interior
Da minha alma tremente,
Só encontro o fatal vazio,
Que me assola continuamente.
É certo que não tem fim,
A estrada pela qual eu vim,
Perseguindo o absoluto,
Que não é nada e é tudo…
Apolo pousou na relva fresca o bloco pautado, e ia pegar na lira para tocar algo, quando a sua acção foi subitamente interrompida...
Passa Luna à sua frente, alegre e saltitante, emanando um suave aroma a rosas, que entrou alegre nas narinas de Apolo...
Apolo (hesitante)- Luna...
Luna (volteando-se)- Oh! Apolo... Olá... Tudo bem contigo?
Apolo (corado e titubeando)- Sim... Tudo... Estava a... a escrever um bocado na sombra, que grande calor...
Luna- Pois está... Deixa-me ver o que escreveste... Vá lá!
Apolo (acanhado)- Não está grande coisa, são só fragmentos fulminantes...
Luna começa a ler o bloco pautado, e sua face enrubesce e solta depois um suave sorriso
Antes de acabar de ler...
Aquando do beijo, o sol doirou em Olímpia como nunca o tivera antes feito. A encarnação do Deus Sol está agora feliz...