Encontrou-se Apolo com Luna no movimentado Café da Civilização Feliz. Antes de se sentar tratou de ir pedir dois sumos naturais ao balcão:
Apolo: Olá, bons dias, Hanon, queria dois sumos naturais se fazes favor.
Hanon: Olá Febo, vai já sair, são 4 moedas
Apolo: Aqui tens.
Hanon: Podes-te ir sentando que eu já lá vou entregar.
Apolo: Obrigado.
Foi-se Apolo por fim sentar calmamente. Sentou-se na esplanada, no assento defronte a Luna, em cujo cariz se estampava uma ingente mágoa e aflição.
Apolo: Estás bem, Luninha? Pareces estar infeliz. Não quero ver a minha jovem beldade murcha de tristeza…
Luna: Não é nada querido, estou bem, estou só um pouco… can… cansada…
Apolo: Cansada de quê?
Luna: Do duro trabalho que me tem trilhado recentemente.
Apolo: Nos últimos dias não temos falado, mas nunca me deste a conhecer esse molesto trabalho. Tens…
Foram interrompidos por Hanon, que apareceu, em giro rápido de dançarina, voando com a bandeja em equilíbrio difícil…
Hanon: Aqui têm os suminhos, caros amigos:D
Luna e Apolo (em uníssono): Obrigado Hanon
Mal a Hanon se ausentou por entre a escuridão do café, Luna lutou logo por tergiversar a conversa.
Luna: Já sentia falta de um dia um pouco mais húmido… sabe tão bem… Tem feito muito calor.
E continuaram destarte a conversa enquanto chupavam os sumos fervorosamente. (Apolo longe estava ainda de adivinhar a nuvem de pranto que se avizinhava).
Luna: Folguei muito ver o filme que me indicaste… É…É fenomenal…
Apolo: A sério minha casta flor, então e o que mais te agradou nele?
Luna: Aquela inspiradora despedida no crepúsculo entre os protagonistas, aquele brotar de angústias na alma durante o torpor do dia… O dourado pôr-do-sol… Foi uma cena assaz pesarosa, mas ainda assim muito romântica, e patenteou-me na alma o quão vã é a vida…
Apolo (aparte): Jesus! Está hoje tão melancólica. O dia está lindo… ela é tão bela… Que antítese!
Luna (continuando): Gostei também muito da discussão entre o Larry [O nome que me ocorreu :)] e o professor, sobre a validez da metafísica. Quando o professor disse (erradamente) que a metafísica está patente só naqueles incapazes de se adaptar aos flagelos do mundo, e que não se conseguem resignar nem ao que lhes proporciona a natureza nem à finitude…
Apolo (gracejando): Não me fales em finitude, senão ainda começo a chorar.
Luna (mais triste e pálida que a estátua de Níobe): Pois...
Luna (Aparte): Por favor, lágrimas, não saiam, imploro-vos!
Prosseguiu então deste modo o diálogo… Falou-se de tudo: Amor, cinema, música, escola, amizades, até que chegou-se enfim à recordação dos momentos passados juntos, acontecimentos passados à muito pouco tempo…
Apolo: Lembras-te do dia em que eu, debaixo do Loureiro escrevia soturnamente, e tu iluminaste meu coração quando, como que divinamente apareceste, alva, deslumbrante, como uma flor regada pelo mais puro e límpido orvalho… Saltitante… Perfumada… Ah! O quanto eu te amo…
Luna (com o semblante cavado de mágoa): Se lembro… Foi o dia mais feliz da minha vida… O beijo… a fragmentada poesia…
Apolo: E lembras-te dos maravilhosos tempos que juntos partilhámos a namorar, a rir… Oh! Que divino antídoto é o amor… Tu és a minha Vénus, encerras em ti todo o amor e beleza… Que beleza…
Luna (removendo algo da sua malinha, para disfarçar o choro, que ameaçava sair): Amo-te Febo, minha luz, meu Sol.
Apolo (contente): Passámos belos tempos e continuaremos a passar para toda a eternidade…:D
Caiu, aquando do “para toda a eternidade” uma dolorosa lágrima dos lindos e ternos olhos de Luna. Anoitecia… A Lua surgia… Luna era como uma flor bela e desolada, criada para a dor e para o amor…
Apolo (não vendo a lágrima): Ah! Luna, és tão virtuosa
Luna (retendo as lágrimas): Oh! Febo…
Apolo: És bela…
Chegou, por fim, nesse momento, a grande nuvem de pranto que anteriormente se avizinhava, e sem chover, principiou a chover…
Luna rompeu num choro convulsivo e Apolo, sofrido, em sentida comoção, e terno, consolava Luna incessantemente…
Apolo: Que se passa querida, não chores… Não gosto de te ver chorar… Disse alguma coisa de mal? Que te vai na alma que tens estado todo o dia tão deprimida? Conta comigo para o que precisares… Que te aflige? Podes confiar em mim, do fundo do meu coração…
Luna esfregou os olhos, e fitou Apolo como que uma alma penada, dilacerada, lutando para encontrar um início para o diálogo.
Principiou então assim:
Luna: Oh! Febo, o meu coração dilacera-se lentamente! Eu conto-te… vou... vou contar-te tudo… agora… os nosso destino juntos desliga-se aqui…
Apolo (atónito): que dizes… Luna…?
Luna: Os meus pais forçam-me a partir daqui para o estrangeiro, é inevitável, não há forma de os dissuadir, estou tão cansada, nem sabes que tenho sofrido… Acabou… Nunca mudarão de ideias… Amo-te muito…
Apolo (confuso): Quê! Oh não, já… já tentaste transmitir-lhes piedade? Já tentaste tudo? Oh! Infelizes, Oh! Desgraçados, era o que era… agora é o que é… Não pode ser! Ninguém, nem teus pais podem controlar assim a tua vida, a vida é tua, unicamente tua! Vou contigo, eu irei contigo, não consigo viver sem ti, sem ti meu coração cairá para sempre no paul da desesperança… Não, não me resigno a isto, não conseguirei suportar os golpes pungentes da fortuna adversa, não irei conseguir por fim a esse dilúvio de dores…
(CONTINUA BREVEMENTE)